A nota da avaliação é reflexo da aprendizagem do estudante

De 0 a 10, quanto […]

2 de dezembro de 2022

De 0 a 10, quanto uma avaliação tradicional é realmente necessária?  

Você sabia que o aclamado fundador da Apple, Steve Jobs, não teve um bom rendimento nos seus primeiros anos na escola? Até mesmo Bill Gates, empresário norte-americano mundialmente conhecido por fundar a Microsoft e transformar o mundo por meio da computação direcionada ao uso cotidiano, admitiu que não era um bom aluno quando criança. Se você está surpreso com essas informações, temos mais uma que poderá te chocar: Albert Einstein, uma das mentes mais brilhantes de todos os tempos na história da ciência, também tirava notas ruins – ao que tudo indica, sua capacidade de estudar por conta própria fazia com que achasse o cotidiano da escola enfadonho.   

A essa altura, você deve estar se perguntando, assim como nós: como estes três podem ter tido desempenho ruim na escola, sendo tão inteligentes? As três personalidades são conhecidas ao redor de todo o mundo por suas mentes brilhantes e uma capacidade única de questionar o status quo em nome do que acreditavam. Quando avaliamos muitos outros casos, temos segurança para afirmar que a nota de uma prova, isoladamente, não reflete a capacidade intelectual de um estudante como pode se supor em um primeiro momento.   

Claro, bons resultados nas avaliações e nas atividades demonstram que as crianças e adolescentes estão absorvendo a matéria, mas essa não deve ser a única prática avaliativa. Afinal, cada indivíduo aprende de maneira diferente e possui suas próprias dificuldades e facilidades. Num momento em que tanto se discute a importância da saúde mental em nosso cotidiano, vale pensar sobre o stress a que os estudantes são submetidos em avaliações pontuais que fazem uma fotografia de um determinado instante, verificando apenas a absorção de um conteúdo específico.  

Uma boa maneira de expandir a nossa percepção sobre a ideia de inteligência é conhecer o trabalho do cientista norte-americano Howard Gardner. Afinal, o autor da Teoria das Inteligências Múltiplas propõe que a inteligência humana é como um quebra-cabeça, composto por oito peças que representam as capacidades e as habilidades que todas as pessoas têm e desenvolvem ao longo da vida. Isso não quer dizer que todas as pessoas apresentam as mesmas aptidões ou, então, que há um determinismo em relação à pluralidade de nuances com que cada um de nós expressa os diferentes tipos de inteligência. A ideia em ter Gardner como ponto de reflexão é desmistificar que os processos cognitivos podem ser abarcados por uma só ideia – “inteligência”, no caso – abrindo as portas para valorizarmos os aspectos diversos pelos quais a mente interpreta e age.

“Quando você tira notas altas no colégio, fica achando que é muito inteligente. Mas se for ao teatro, visitar uma fazenda ou uma granja, verá que outras inteligências são também importantes”, disse Howard Gardner. Partindo dessa fala, podemos imaginar que um único tipo de avaliação pode não ser suficiente para entender como os diferentes tipos de inteligência se manifestam, já que, na maior parte das vezes, o instrumento de avaliação está mais orientado a um tipo específico de competência.    

Ao pensar nas múltiplas mentalidades, o cientista trabalhou em uma teoria que indica oito perspectivas do que estávamos acostumados a empacotar sob a palavra “inteligência”.   

Vamos dar uma olhada em cada uma delas?   

1- Inteligência lógico-matemática  

Habilidades com números, resolução de problemas matemáticos, fácil identificação de padrões e alta velocidade em resolver questões são algumas das capacidades que caracterizam essa inteligência.   

2- Inteligência linguística  

A inteligência linguística está associada às capacidades de leitura e de escrita, ou seja, à desenvoltura que podemos ter quando o assunto é a nossa relação com uma determinada linguagem e suas variações – tanto no texto quanto na oralidade.   

3- Inteligência musical  

Essa inteligência está ligada à capacidade de criação musical, ao acompanhamento de ritmos e à prática em tocar diversos instrumentos. Além disso, trata-se da habilidade conectada à leitura e composição de peças musicais.   

4- Inteligência espacial  

Aqui, fala-se da capacidade de observar o mundo em diferentes perspectivas. Na prática, isso se traduz na habilidade de criar imagens mentais facilmente, além de desenhar bem, identificar detalhes e ter grande senso estético.    

5- Inteligência corporal e sinestésica  

A inteligência corporal e sinestésica é representada pela capacidade de utilizar ferramentas ou, então, expressar os sentimentos por meio do corpo.   

6- Inteligência interpessoal  

Compreender bem diversas situações, ter facilidade em lidar com grupos e procurar entender o problema dos outros são algumas das capacidades ligadas à inteligência interpessoal.   

7- Inteligência intrapessoal  

A inteligência intrapessoal é caracterizada pela reflexão e autoanálise.   

8- Inteligência naturalista  

Estar em contato com os animais, distinguir plantas com facilidade e gostar de estar em contato com a natureza são algumas das características que representam a inteligência naturalista.   

Agora que você já sabe quais são as oito perspectivas de inteligência de acordo com a proposta de Gardner, chegou a hora de entender quais métodos avaliativos podem fazer parte do dia a dia da sua escola!  

1- Conselho de classe  

Apesar de, em muitos casos, ser conhecido como o pesadelo dos alunos, o conselho de classe é uma ótima alternativa para os professores avaliarem os estudantes de maneira geral: desde as notas das provas tradicionais até a participação ativa do aluno em sala de aula. Sendo uma reunião realizada com professores e coordenadores pedagógicos, essa prática auxilia o corpo docente a identificar problemas, buscar soluções e discutir o desempenho das crianças em diferentes matérias, sendo possível apontar quais são as dificuldades e facilidades de cada estudante. Trata-se de uma boa oportunidade para a troca, conversas desafiadoras e cocriação de alternativas que tomarão forma em consequência dos insights.   

2- Autoavaliação  

Esse momento é ideal para que os alunos possam desenvolver seu senso crítico e refletirem sobre o seu processo de aprendizagem. Com a autoavaliação, cada estudante passa a entender quais temas devem ser trabalhados com maior ênfase e, consequentemente, os professores passam a ter a oportunidade de aprimorar seu processo de ensino de acordo com as necessidades de cada turma. No início, é provável que as questões mais evidentes sejam trazidas à tona. Porém, com o tempo, esse processo pode render surpresas importantes e permitir o diálogo em torno de pautas sensíveis e de grande relevância para cada estudante.   

3- Apresentações e seminários  

Como apresentamos anteriormente, nem todas as pessoas conseguem se expressar da melhor forma por meio da escrita. Então, que tal uma apresentação? Além de estimular a oratória, os estudantes poderão trabalhar a autoconfiança e sua performance diante de uma plateia que gera um ambiente de segurança. Aposte em um leque de atividades complementares às aulas expositivas! Trazer o teatro para o contexto dos alunos é uma ótima pedida, assim como a criação de paródias e apresentações musicais. Todo o universo das artes visuais, que permitem o uso de uma infinidade de materiais e técnicas, é uma estratégia bastante interessante. Além de trabalhar as múltiplas inteligências sem nem mesmo se darem conta disso, os alunos terão a oportunidade de ampliarem o repertório em termos de musicalidade, senso artístico e criatividade.    

Outro ponto importante das apresentações é o que chamamos de pré-apresentação. Geralmente, os estudantes devem realizar pesquisas, estudar o tema por muitas horas, preparar sua apresentação visual e entender, de fato, o assunto que será apresentado. No futuro, tal atividade será importante para que os estudantes possam participar com desenvoltura de momentos na universidade e/ou no mercado de trabalho. Além disso, os alunos terão a chance de desenvolver diversas habilidades, como o trabalho colaborativo, uso de tecnologia, busca por fontes confiáveis de informação, senso crítico e estético.   

4- Debates  

O debate é essencial para desenvolver a capacidade de argumentação. Além de gerar um ótimo momento para dialogar, estimular a comunicação, defender seus ideais e, claro, demonstrar ao professor o que foi compreendido sobre aquele assunto em discussão.   

5- Trabalhos em grupo  

Além de ser avaliado individualmente, os alunos podem ser examinados de maneira coletiva. Por meio dos trabalhos em grupo, os estudantes passam a trabalhar diversas habilidades essenciais para o desenvolvimento, como a empatia, a comunicação e a colaboração. Uma boa ideia para utilizar essa metodologia é apresentar aos alunos um tema que deve ser discutido em grupo e, posteriormente, pedir aos estudantes que apresentem suas conclusões. Com isso, os alunos serão capazes de discutir e apresentar suas reflexões e respeitar opiniões distintas.   

6- Provas objetivas e simulados  

As famosas provas de alternativa são uma ótima oportunidade de avaliar os alunos, até por estabelecer um paralelo com outras situações que irão encontrar na jornada estudantil. Além de trazer questões diferentes das que estão acostumados – perguntas que demandam respostas em texto -, simular um vestibular, por exemplo, é uma estratégia para fazer com que os alunos se acostumem com tudo o que envolve esse momento: o nervosismo, o tempo para realizar uma prova e a quantidade de matérias que são solicitadas na avaliação.   

Falando em quantidade de matérias, as provas objetivas são muito utilizadas no fim do ano pelas escolas. O chamado “provão” reúne grande parte do conteúdo ensinado em sala de aula e, com isso, a escola consegue analisar se os alunos absorveram ou não o material apresentado ao longo do ano letivo.   

Mas, claro, não vamos deixar de lado as tradicionais provas discursivas. Afinal, elas são importantes para que os estudantes consigam fazer conexões, argumentem de acordo com o que foi questionado e tenham a liberdade de responder o que quiserem.   

7- Relatório individual   

O relatório individual é uma produção escrita pelo aluno após uma atividade ou projeto desenvolvido. Por meio dessa entrega, o professor consegue identificar com exatidão a intensidade de apreensão do conteúdo do aluno.   

Mais do que um documento escrito pelo aluno, uma dica interessante é a de pedir para que a turma faça uso de fotos, desenhos e colagens, criando um relatório multimídia. Há, inclusive, a possibilidade de criar uma rotina de documentação fotográfica durante o período letivo abordado no relatório, de modo que os alunos possam reunir as imagens para realizar a entrega juntamente com o plano. Ampliar o escopo da atividade para além do texto permite que o professor tenha mais chances de compreender e ter em suas mãos a visão global do aluno, que terá suporte em sua curadoria de imagens. Mais uma vez, estamos falando de uma oportunidade rica para estimular a criatividade, o senso estético, o manuseio de ferramentas, a capacidade de retratar o mundo em fotos e muito mais.  

Preparado para colocar em prática essas propostas avaliativas? Por meio dessas práticas, os alunos poderão se preparar para os desafios contemporâneos de maneira geral: desde a assimilação das matérias tradicionais até a capacidade de lidar com pessoas, a comunicação e o senso crítico. E, claro, a avaliação será realizada de maneira justa, afinal, nem todo mundo consegue se expressar por meio de papel e caneta, mas merece um incrível 10! 

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