A evolução do formato dos vestibulares ao longo do tempo e suas tendências

Quem nunca se apavorou só […]

5 de julho de 2023

Quem nunca se apavorou só de pensar na palavra “prova”? Ou, então, em saber que está sendo avaliado? As mãos ficam suadas, as pernas tremem, as questões se embaralham e “dá branco”; o cérebro parece esquecer tudo! E se falarmos a palavra “vestibular”? Esse termo aparenta ser um bicho de sete cabeças! O conteúdo desse tipo de prova é extenso e denso, muitas questões devem ser resolvidas em uma quantidade de tempo que tem chances de não ser suficiente. Não é um momento fácil na vida de ninguém. Mas quando o vestibulando está preparado para este momento, sabendo o que será avaliado, tudo pode ficar mais tranquilo e favorável de ser vivenciado.

Uma boa dica é saber se planejar e se organizar física e psicologicamente para esse momento, não apenas em relação ao domínio do conteúdo que poderá ser avaliado, mas também conhecendo e analisando as características de cada prova, treinando o seu formato, familiarizando-se com o que será apresentado no grande dia. No texto de hoje iremos explorar o histórico dos vestibulares e entender um pouco mais de suas tendências. Vamos nessa?

 

Conhecendo a história dos vestibulares

Até 1911 só poderiam entrar nas universidades públicas brasileiras pessoas que haviam estudado em determinados colégios. O número de candidatos ficou muito superior ao número de vagas, portanto foi necessário criar um método de seleção e essa triagem de caráter social foi adotada.

A aplicação dos exames de entrada, como eram chamados os vestibulares, era feita a partir de testes escritos e orais que abrangiam duas grandes áreas: línguas e ciências. Com o passar do tempo, a legislação ampliou a possibilidade do ingresso dos estudantes no Ensino Superior, e em 1961 a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) viabilizou que todos os cursos de grau médio dessem o direito de cursar esta etapa de ensino. Poucos anos depois, em 1964, a necessidade de seleção dos candidatos a vestibulares de São Paulo foi tomando novas proporções e as disciplinas começaram a ser abordadas de maneira mais aprofundada. Dessa forma, os exames passaram a ser feitos por questões de múltipla escolha, processadas em computadores.

A Fuvest foi criada em 1976 e passa a ser responsável pelos vestibulares da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A partir deste momento, boas práticas foram instauradas e são utilizadas até hoje, como por exemplo: o sistema classificatório por nota máxima para resolver a questão dos candidatos excedentes; inclusão de questões de Conhecimentos Gerais; aplicação do exame em duas fases, sendo a primeira fase eliminatória. Sendo assim, este método de exame vestibular passou a ser modelo para outras instituições e em 1996 cada organização de Ensino Superior, pública ou privada, passou a ser responsável pelo seu próprio critério de seleção.

Outra grande mudança com o passar do tempo foi a criação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), em 1998. Esta prova é realizada pelo Ministério da Educação para avaliar a qualidade do Ensino Médio, que se tornou instrumento de acesso ao Ensino Superior em diversas instituições, públicas e privadas.

As mudanças sociais, as novas demandas do mercado de trabalho e a busca por um processo seletivo mais justo e inclusivo impactaram diretamente a evolução da forma em que os vestibulares têm evoluído e, hoje, embora a prova ainda seja a grande responsável pelo ingresso dos estudantes no Ensino Superior, existem muitas novidades que detalharemos a seguir.

 

Características e tendências dos vestibulares

A democratização do acesso ao Ensino Superior, com a expansão do número de instituições de ensino e de vagas oferecidas, é o fator responsável por ampliar o acesso a esta etapa de estudo. Com a possibilidade de aumento da fatia dos estudantes interessados e dispostos a adentrar nestas vagas, foi necessário amplificar as formas de admissão, isto é, inovar nos formatos de vestibulares. Foi necessário modernizar estilos de provas e diversificar formatos.

Nesse sentido, os vestibulares se transformaram: é possível notar mudanças na estrutura e no conteúdo das provas. Uma das alterações mais impactantes é movimentar o foco predominante nas disciplinas clássicas, tais como Matemática, Língua Portuguesa, Física, Química, Biologia, História e Geografia, para incluir questões interdisciplinares. Isso significa que os vestibulares estão direcionados para avaliar se os candidatos conseguem pensar nas questões dentro de um contexto que aborda mais de uma área do conhecimento, trazendo os conteúdos trabalhados durante a sua vida escolar (especificamente no Ensino Médio) para solucionar propostas relacionadas com o dia a dia. Embora o vestibulando possa ter maior facilidade em uma das áreas do conhecimento, esta estratégia visa avaliar se o estudante está preparado para utilizar suas habilidades de maneira global, combinada, para solucionar problemas.

Outro fator bastante inovador dos exames admissionais das instituições de Ensino Superior atuais é a inclusão da avaliação das habilidades socioemocionais em seus processos seletivos. Características que vão para além do conhecimento acadêmico, técnico e cognitivo são abordadas, isto é, são avaliadas competências que podem impactar positivamente o trabalho do futuro profissional. São observados comportamentos em situações abrangentes, como na resolução de problemas, no trabalho em equipe, se há atributos de criatividade, liderança e capacidade de comunicação.

Sendo assim, a necessidade de avaliar o candidato de forma mais complexa também alterou a forma das avaliações: as provas escritas tradicionais estão sendo substituídas, cada vez mais, por outros métodos de avaliação. Entre eles estão as redações, as avaliações de habilidades específicas para determinadas áreas de conhecimento, as entrevistas, as dinâmicas de grupo, a análise de portfólio e até mesmo a utilização de notas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) como parte do processo seletivo. Algumas instituições têm iniciado o processo de personalização da prova, isto é, permitem que o candidato opte por resolver questões em relação às quais possua maior habilidade ou conhecimento.

Estas transformações não podiam deixar de lado a integração da tecnologia nos vestibulares: aplicação de provas online, uso de sistemas de correção automatizados, utilização de plataformas digitais para inscrição, consulta de resultado e divulgação de novas etapas. A tecnologia também já permite substituir momentos que antes aconteciam apenas presencialmente por etapas à distância, como, por exemplo, o envio de vídeos e a realização de entrevistas virtuais.

 

E o futuro dos vestibulares?

Uma das grandes transformações do acesso ao Ensino Superior no Brasil é a tendência da valorização da diversidade nesta etapa de ensino. Os vestibulares estão em processo de serem cada vez mais inclusivos e atualmente contemplam a Lei nº 12.711/2012 , conhecida por Lei de Cotas: um instrumento que foi criado pelo Governo Federal para contemplar os estudantes de escolas públicas, de baixa renda, negros, pardos e indígenas (PPI) e pessoas com deficiência (PcD) para ingressarem nas universidades públicas. Embora esta lei seja destinada para o ensino público, instituições privadas de Ensino Superior também já consideram critérios étnicos e socioeconômicos em seus vestibulares. A ideia é ampliar a oferta de suas vagas para estudantes provenientes das escolas públicas e dos grupos tidos como minoritários.

Outra tendência que indica grande transformação nos vestibulares é olhar para a experiência de outros países, já que há casos interessantes de reformulação e até mesmo de extinção da prova. Nesses casos, muitas universidades optam como avaliação de entrada outros formatos, como por exemplo: histórico escolar do estudante, notas do certificado de conclusão do Ensino Médio, entrevistas, cartas de recomendação, resultados de testes específicos, currículo com a participação em atividades extracurriculares, entre outros elementos. Entende-se que assim o estudante é avaliado de forma mais ampla, já que se considera seu histórico como aluno durante um período escolar mais extenso, levando em conta diferentes instrumentos avaliativos.

Com esses novos caminhos que pudemos explorar, é possível notar que não apenas o modelo de ingresso no Ensino Superior no Brasil está em importante transformação: as instituições de ensino não querem aprovar estudantes que estejam preparados apenas para serem aprovados nos vestibulares, querem em suas salas de aula estudantes que possuam as habilidades e as competências para transformar suas vidas individuais e impactar o futuro, fazendo do mundo um lugar cheio de profissionais preparados e competentes para atuarem da melhor forma possível!

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